Fotografias que caberiam num parágrafo de Clarice
- Babuska Fotografia
- 14 de abr.
- 2 min de leitura

"Tem uma foto minha que eu não posto por nada.
Cabelo molhado, troféu do dia porque eu tinha conseguido tomar banho. Calcinha de
compressão, sutiã de amamentação encharcado. Tom grudado em mim, com aquele sono
profundo de quem ainda não sabe que o mundo gira — mas confia que eu sou o eixo.
Quem vê de fora vê silêncio.
Mas por dentro...
Um vendaval de coisas que nem têm nome.
É o tipo de imagem que, se Clarice Lispector visse, não descreveria com adjetivos.
Ela diria algo como: Ela estava desfeita, mas ali existia uma mulher intacta. Invisível por fora,
inteira por dentro.”
E eu, naquela foto esquecida no rolo da câmera, sou uma página sublinhada da minha própria
história.
Sou mulher que não coube no antes e ainda não entende o depois.
Sou cansaço com ternura.
Sou potência despenteada.
Sou um parágrafo mal escrito, mas cheio de verdade.
As fotos da babuska que você vê — essas que parecem flutuar entre o real e o sonho —
revelam aquilo que a gente esquece de ver:
a força por trás do gesto automático,
a ternura disfarçada de rotina,
a poesia escondida no ordinário.
E eu, que tantas vezes me senti apagada, me vi inteira ali.
Me vi Clarice.
Me vi verso,
me vi vírgula,
me vi parágrafo.
Na maternidade, a gente vira literatura viva.
E essas imagens são o livro que meu filho vai poder abrir quando quiser lembrar da mulher
que orbitava o mundo dele em silêncio — mas com um amor que fazia tudo girar.
E você?
Qual foto do seu rolo de câmera merecia virar página de livro?
Compartilha esse post com quem precisa se reler com mais carinho."
Texto por Talyta Borges
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